Aqui nós vamos ensinar alguns truques retóricos muito utilizados em discursos políticos – daqueles que enganam bem os ouvintes menos atentos. Vamos começar com a argumentação ad hominem, que é o velho truque de queimar o carteiro por causa da carta. Neste caso porque o conteúdo da carta pode ser um argumento invencível ou uma acusação indefensável. Imagine-se a hipótese de uma discussão sobre adoção de crianças em que há debatedores antagônicos, um sustentando os benefícios da adoção e o adversário justamente o oposto. E este, contrário à adoção, parte pra cima: “Fulano pode ser favorável à adoção com esse discurso bonitinho, mas ano passado defendeu o aborto em um portal de notícias…” Veja-se que o orador abandona por completo os méritos de sua tese, ou mesmo o combate embasado em fundamentos lógicos direcionados ao discurso oposto, e o faz talvez porque não possua agilidade de raciocínio para percebê-los e utilizá-los, ou simplesmente porque não existam. Aí, parte ofensivamente para cima do contendor. Infelizmente, muito comum.
O envenenamento da fonte
Outra tática dispersiva de retórica que parte para o ataque em uma discussão que poderia ser pacata e lógica – prepare-se para isso no discurso político. Aqui, o orador desde logo esculhamba seu vindouro opositor: “Qualquer idiota sabe que o preço da gasolina sobe por causa dos altos impostos estaduais.” Depois disso, é claro, torce para que os idiotas não apareçam… A afirmação insultuosa intimida e, ao mesmo tempo, dispensa o autor do discurso de demonstrar seu argumento ao fundamento de que se trata de uma verdade pré-concebida e óbvia, quando não é. Cuidado com isso, hein?
Argumentum ad populum
Este tipo de artifício retórico procura desde logo aliados e ao mesmo tempo desvia o foco da conversa, talvez para ocultar o vazio da fundamentação. Isso político faz o tempo todo! Apela para o povo: “Evidente que esse povo sofrido não suporta mais o fascismo governamental. “. Está vendo como o orador esperto se encheu de aliados? E demonstrou que está com muitos, truque que é mais comum como revide do que como iniciativa, é mais evidente como reação. Confrontado com a alta da inflação, o orador sofista parte para o contra-ataque: “o povo sabe que o aumento de preços é uma consequência normal do crescimento da economia!”. E assim vai arrumando cúmplices e disfarçando a falta de argumentos.
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